Para celebrar o mês de outubro na plataforma o perfil Lugar de Falas traz a criadora e advogada Fayda Belo, que fala sobre leis e direito de forma descontraída, o que lhe rende comparações com Annalise Keating, personagem interpretado por Viola Davis na série “Como Defender um Assassino”. Dentre todos os discursos, Fayda destaca a importância da conscientização sobre o racismo e o preconceito. Atualmente tem mais de 17 milhões de curtidas e 1 milhão de seguidores na plataforma, demonstrando a grande voz que representa no aplicativo.

Conte-nos um pouco sobre sua história de vida e trajetória na internet. 

Eu nasci na mesma terra do cantor Roberto Carlos: Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Aqui eu nasci, cresci, estudei em escola pública, fiz a minha graduação em Direito graças a uma bolsa do Prouni [Programa Universidade para Todos], fui aprovada no exame da OAB com nota máxima e, atualmente, administro o Fayda Belo Advocacia. Tenho 40 anos, sou casada com André, mãe do Philippe e do Junior e avó da fofura do Heitor.

Sou uma mulher preta, filha de mãe solo, que cresceu em um bairro muito pobre e que viu na educação um instrumento para virar a chave da vida. Sempre tive o sonho de me tornar advogada para ajudar a fazer justiça aos grupos minorizados. A minha atuação jurídica é para defender pessoas pretas, mulheres, pessoas LGBTQIAP+ e pessoas com deficiência. Sou advogada criminalista especialista em crimes de gênero, direito antidiscriminatório e feminicídios.

Quando e por que você começou a gravar conteúdos para o TikTok?  

Sempre fui uma advogada muito atarefada no mundo off-line e por isso quase nunca consumia as redes sociais. Com a pandemia, os Fóruns foram os primeiros a fecharem as portas e os últimos a abrir. Em decorrência disso, surgiu um tempo mais ocioso, e então comecei a consumir mais plataformas digitais, até que, em dezembro de 2020, baixei o TikTok, e me identifiquei muito. Gostava muito de assistir a vídeos por lá, até que no início de 2021, enquanto rolava a página Para Você vi uma moça falando umas informações jurídicas equivocadas em um vídeo (eu tenho pavor a desinformação! risos), resolvi, então, no impulso, abrir a câmera para responder aquele vídeo com as informações jurídicas certas e o vídeo viralizou.

Então pensei: será que as pessoas querem conhecer mais seus direitos com uma linguagem simples e leve? E foi aí que comecei a produzir conteúdo jurídico e deu super certo. Vi que poderia usar meu conhecimento jurídico para informar as pessoas virtualmente sobre seus direitos, de forma descontraída e com uma linguagem acessível de forma que todas as pessoas entendessem.

Em que momento você percebeu que tinha se tornado uma criadora? O que isso significou para você?  

No momento que comecei a gravar vídeos para a plataforma, vi que o teor dos comentários era de agradecimento pela informação passada, ou espanto em saber que tal situação era crime por lei. Também recebia dúvidas sobre outras situações, que culminavam na criação de outros conteúdos, agregado ao fato de que conhecidos, amigos, me enviavam republicações dos meus vídeos que estavam circulando em outras plataformas. Então fui começando a ver que realmente estava desenvolvendo um trabalho de criadora de conteúdo e influenciadora digital. Confesso que fiquei espantada, porém feliz em saber que estava podendo usar meu conhecimento jurídico para ajudar e ensinar as pessoas sobre seus direitos.

O que a amplificação da sua voz e o impacto do conteúdo, através da plataforma, significam para a sua vida? 

A sensação do dever cumprido. Saber que a minha voz tem sido amplificada para ajudar tantas pessoas a conhecerem seus direitos, identificar crimes sofridos e denunciar arbitrariedades não tem preço, tem valor e muito valor para mim.

Qual o seu sonho de vida como criadora no TikTok?

Como criadora do TikTok, tenho o sonho de ser a garota propaganda da plataforma em todos os veículos de comunicação (Já pensou? risos), pois realmente sou muito apaixonada pelo TikTok, e também de ser premiada no prêmio de melhores criadores do ano na plataforma.

Na sua opinião, quais são os principais atrativos do TikTok para produzir conteúdo? 

O primeiro é a preocupação social com os grupos minorizados e a preocupação em dar visibilidade, cursos e treinamento dentro da plataforma a esses grupos e para os criadores. O TikTok é mais justo na sua forma de distribuição. Se o vídeo for muito bom ele vai viralizar, porque o algoritmo entrega realmente para as pessoas. A comunidade lá é uma comunidade engajada, carinhosa e solícita, e os criadores se ajudam muito.

Outro ponto importante que gosto de destacar é que, além da plataforma possuir um número imenso de efeitos atrativos, as lives e os vídeos dão ao criador a chance de ter uma graninha a mais, já que os expectadores podem doar presentes em dinheiro durante a transmissão e após assistir aos vídeos.

Por fim, é uma plataforma que o criador tem acesso livre ao seu time de colaboradores, o que facilita muito a comunicação com a plataforma e a resolução de eventuais problemas.

Como o TikTok impactou a sua vida?

Mudou totalmente a minha vida. E para melhor. Em apenas 1 ano sai do anonimato para a lista das advogadas mais influentes do Brasil. Dar uma busca no Google e ver que me tornei segundo os seguidores, as pessoas e a imprensa a “Annalise Keating” brasileira, que era uma personagem da série How to Get Away with Murder interpretada por ninguém menos que Viola Davis, que é, inclusive, uma das minhas maiores inspirações como mulher preta, não tem preço.

No TikTok não apenas achei uma forma de ajudar as pessoas através do meu conhecimento jurídico, como tive a oportunidade de agregar novas oportunidades de trabalho através da visibilidade que o meu conteúdo na plataforma gerou. Visibilidade essa que gerou notoriedade, mais clientes e credibilidade com a imprensa, com marcas, organizações e com as pessoas.

Como você tem usado a plataforma para se expressar de forma autêntica? 

Sempre digo que você não precisa imitar ninguém para ter visibilidade. Ser autêntica é o segredo. Ser você! Minha marca pessoal, que inclusive já virou até meme, é dizer o que pode e o que não pode dentro da lei do meu jeito. Até costumo brincar que eu sou o “segundo algoritmo” da plataforma (risos), porque crio conteúdo para explicar as condutas que são proibidas pela lei, com minha forma de comunicação sem que seja preciso copiar outras pessoas.

Seu conteúdo é muito jurídico, mas também usa muito do humor. De onde vem a inspiração?

Essa pergunta é muito interessante porque muita gente acha até que é um personagem, quando na verdade trouxe para o mundo virtual a Fayda do mundo off-line, ou seja, a forma como falo nos meus vídeos é a forma como converso com minhas amigas, minha família e pessoas conhecidas. Esse foi o ponto chave que fez o conteúdo se expandir, levar informação jurídica de uma forma leve e com zero “juridiquês”.

Você tem ajuda para gravar seus vídeos?

Não. Eu mesma faço a curadoria do conteúdo que acho pertinente ser gravado e eu mesma gravo.

Como é para você perceber que é uma voz muito forte da comunidade na plataforma?

Fico muito feliz, grata, mas ao mesmo tempo sinto o peso da responsabilidade por ter mais de 1 milhão de pessoas confiando em mim e no que eu falo. Por isso, sempre procuro criar meus conteúdos com muita responsabilidade. Não priorizo o número de visualizações, nem de seguidores que vou ganhar, mas a qualidade e veracidade da informação que vou passar na plataforma.

Quais vídeos você mais gosta de gravar?

A maioria dos meus vídeos é para falar acerca dos direitos de grupos minorizados. Costumo dizer que dou sempre prioridade para os conteúdos que geram identificação, e que possam ensinar algo. No momento que faço a curadoria, ser o “assunto do momento” não é prioridade. Minha prioridade sempre será trazer um conteúdo que seja próximo da minha comunidade e que possa dar a ela algum conhecimento sobre alguma coisa. A missão é sempre informar e educar.

Você considera o TikTok um lugar acolhedor para produzir conteúdo? Como você enxerga isso?

Costumo dizer a todo mundo que me sinto muito em casa no TikTok. Primeiro porque lá autenticidade vale mais que uma mega produção ou edições profissionais. É um lugar para você ser você.

O conteúdo é mais importante do que a estética, e isso é muito incrível pois dá a oportunidade de pessoas simples ou anônimas tornarem-se criadores de sucesso. A comunidade também é muito acolhedora e participativa, o que impulsiona ainda mais o criador.

Qual o maior desafio para produzir esse tipo de conteúdo? A comunidade TikTok ajuda seu trabalho?

Meu maior desafio é tratar de conteúdos que são, na sua maioria, sérios com leveza e uma pitada de descontração. Mas meus “crimelovers” (nome carinhoso pelo qual chamo meus seguidores) colaboram muito para que eu possa sempre estar antenada a situações dentro da minha área de atuação. Se eles virem uma situação que infringe alguma lei ou até as Diretrizes da plataforma, prontamente me enviam ou me marcam na publicação. Isso é muito gratificante, pois saber que alguém, ao ver uma injustiça ou algo fora da lei, logo pensa em mim para alertar ou resolver, demonstra quão grandiosa é a credibilidade e a confiança que a comunidade deposita em mim.

Quais suas maiores inspirações dentro do TikTok?

Logo quando entrei para a plataforma fiquei muito fã de alguns criadores com conteúdo ligado às minhas pautas como Erika Afonso, Manu Mendes, Max Bertuani, dentre outros.