O Lugar de Falas deste mês traz a inspiradora história de Ju Romano (@ju_romano), criadora que usa seu perfil para passar mensagens e reflexões positivas sobre autoaceitação, além de dedicar boa parte do seu conteúdo à moda – um universo que mudou sua forma de levar a vida. Seu perfil conta com mais de 53 mil seguidores e mais de 530 mil curtidas na plataforma.

Conte-nos um pouco sobre sua história de vida e trajetória na internet. Quando e por que você começou a gravar conteúdo para o TikTok?
Eu comecei a produzir conteúdo muito novinha. Há 20 anos eu escrevia o meu primeiro blog e descobri na criação de conteúdo um jeito de colocar para fora muitas ideias bagunçadas que eu tinha. Quando eu era adolescente passei por alguns distúrbios alimentares que me fizeram olhar para a questão da diversidade corporal e body positive, principalmente porque sempre gostei de moda, mas nunca me senti pertencente a esse nicho. Foi quando resolvi fazer meu blog (que existe desde 2008) e passei a produzir conteúdo para as redes sociais. Comecei a gravar conteúdo para o TikTok com mais frequência há uns 3 anos, quando percebi que o TikTok tinha uma característica muito particular que era a "valorização do imperfeito" - e digo isso como um grande elogio. Enquanto muita gente passa uma vida tentando mostrar só o melhor lado de si (seja na vida ou nas redes) e buscando a perfeição, no TikTok era o comum ver o dia a dia, as situações cotidianas compartilhadas por muitos usuários, um conteúdo que realmente fazia sentido. Os padrões e a perfeição disputavam espaço com conteúdo “sincerão” e isso me atraiu muito como uma criadora que fala e defende a liberdade de sermos quem somos e nos expressarmos da forma que achamos mais real e sincera.
Você considera o TikTok um lugar acolhedor para produzir conteúdo? Como você enxerga a comunidade na plataforma?
Para mim é um lugar acolhedor onde eu entro em contato com conteúdo e formatos novos todos os dias. Acho que além de acolhedor, é inspirador. Eu gosto muito de ver como os criadores de conteúdo adotam suas personalidades e fazem conteúdo diversos sobre o mesmo tema.
Quais tipos de vídeos você mais gosta de gravar?
Eu gosto de vários, meus favoritos são os vídeos de Get Ready With Me (arrume-se comigo), provadores (seja de compras ou em lojas) e também gosto muito de produzir conteúdo testando maquiagens.
Quais suas maiores inspirações dentro do TikTok?
Eu sigo pessoas gordas e que curtem moda, como o Noi (@noiaugusto) e a Ana (@cindereladementira), também amo a liberdade da Bels (@todebells) , as makes da Angélica (@angelic4silv4). Mas eu também amo umas pessoas que não tem relação com o tema, como a Marina Smith (@marina2beauty) e a Kah Book (@kabooktv) . No fim, eu gosto da variedade de assuntos e formatos que o TikTok proporciona.
O que a amplificação da sua voz e o impacto do seu conteúdo, por meio da plataforma, significam para a sua vida?
Para mim significam tudo. Poder chegar em uma pessoa que esteja passando por algum momento difícil como eu já passei, que esteja duvidando do seu corpo e da sua capacidade, como eu já duvidei e, de repente, poder levar para ela uma visão diferente. Poder mostrar que existem corpos diversos bem-sucedidos, bem amados, potentes, cheios de estilo e de vida pulsante é espetacular. A possibilidade de fazer a vida das pessoas melhor é o que me faz levantar da cama de manhã e continuar seguindo sempre em frente. Isso não tem preço, mas tem um valor imensurável.
Seu conteúdo já ajudou bastante gente, sente que essa é sua principal função enquanto criadora?
Eu sinto, sim. Sinto que mostrar que tudo é possível com o corpo que a gente tiver é inspirador, seja em conteúdos mais profundos ou conteúdos mais leves de entretenimento.
A moda teve um papel importante no seu processo de autoaceitação?
A moda teve um papel de guia, de motivador, de válvula de escape, de expressão. Não sei nem dizer aonde a moda não entrou em todo o meu processo (risos). Foi por gostar muito de moda que eu me dei conta de que eu era diferente, e foi por causa dela que eu decidi criar conteúdo na contramão do que vinha sendo criado (lá em 2008). Eu sempre encarei a moda como expressão da minha personalidade, nunca como opressão, e foi justamente isso que me motivou a lutar por mais inclusão e, posteriormente, por mais acesso quando percebi que a gordofobia era muito maior do que só não ter acesso a roupas em tamanhos grandes.
Se pudesse dar um conselho principal para alguém com dificuldades em aceitar seu próprio corpo, qual seria?
Meu conselho é que você pense que todo dia de manhã você tem 2 escolhas: viver esse dia infeliz, ou encarar que o que você tem hoje é o que você tem hoje. Você pode dar o seu melhor para fazer com que esse dia seja incrível. Com o tempo você vai perceber que ninguém pode viver sua vida por você, então é melhor tomar logo as rédeas da própria vida e peitar suas escolhas, sua história e sua genética. Seu corpo não vai acordar amanhã do jeito que você imagina que ele deveria ser, mas as oportunidades que você tem hoje pode ser que você nunca mais tenha. Então, aproveite o dia de hoje e coloque sempre prioridades na sua vida que não dependam do olhar do outro.
Qual o seu sonho como criadora no TikTok?
Meu sonho é formar uma comunidade de criadores que se apoiam, que realizam projetos juntos, que ajudam e complementam o trabalho dos outros, como uma grande rede de apoio de criadores e consumidores de conteúdo. Eu sou muito idealista e não acredito muito em concorrência quando a gente fala de criação de conteúdo, por isso meus sonhos são sempre coletivos. Eu sempre acho que juntos somos maiores.
Qual vídeo tem seu look preferido de todos os tempos? Dá para escolher?
AHHHHHH PARAAAA! É como escolher entre um dos seus filhos (risos). Eu não tenho um look favorito, mas tenho 2 looks que me deram muito orgulho de ver a evolução da moda plus size. O primeiro é um vermelho e rosa que eu demorei MESES para conseguir comprar e juntar todas as peças, quando eu finalmente montei o look eu nem acreditei que eu consegui expressar por meio da moda exatamente como eu queria.
O outro foi um look que eu usei no aniversário de 90 anos da minha avó materna, que além de ser um look cheio de significado e festividade, também fez eu me sentir o diamante da temporada. Seja por ter um corpo fora do padrão ou por nunca encontrar roupas legais o suficiente, eu nunca me senti a pessoa com a roupa mais legal da festa, mas com essa roupa foi assim.