O perfil do #LugarDeFalas deste mês conta a história de Dea Schwarz, criadora com mais de 210 mil seguidores e três milhões de curtidas que compartilha suas vivências sendo uma pessoa com deficiência. Dea inspira a nossa comunidade mostrando suas viagens, aventuras e rotina. Para ela, estar na plataforma é poder representar um grupo de uma maneira que não era possível antes, além de dar visibilidade para pautas relevantes para toda a sociedade, como acessibilidade.

Conte-nos um pouco sobre sua história de vida e trajetória na internet.

Aos 22 anos parei de andar e me tornei uma pessoa com deficiência. Rapidamente percebi que eu continuava sendo a mesma pessoa de antes, mas notei que a sociedade só enxergava a minha cadeira de rodas. Essa invisibilidade da pessoa ante a deficiência é a responsável pela falta de acessibilidade física, comunicacional e digital.

Percebi rapidamente isso ao não conseguir mais frequentar, com a minha cadeira de rodas, os lugares que gostava de ir e de ter negada a minha matrícula em uma pós por conta de uma escadaria na porta da faculdade. Simplesmente não aceitei ser colocada na caixinha reservada para as pessoas com deficiência e decidi ser protagonista da minha própria história.

O que me fez esse despertar foi entender rapidamente que existia uma razão por trás desse acontecimento e foi quando encontrei meu propósito de ser relevante para um mundo mais acessível e inclusivo. Me tornei empreendedora social e ajudei a incluir 20 mil pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Há poucos anos, resolvi começar a criar conteúdo para compartilhar um pouco mais da minha trajetória porque entendi que outras pessoas podem se inspirar na minha história. Quando me tornei uma pessoa com deficiência, há 24 anos, não haviam referências. As plataformas digitais não existiam, e teria sido muito mais fácil se, naquela época, eu pudesse ver que pessoas como eu podem ser felizes e realizar seus sonhos.

Quando e por que você começou a gravar conteúdo para o TikTok?

Foi durante a pandemia, em outubro de 2020. Entendi que poderia humanizar ainda mais meu conteúdo mostrando um pouco mais da minha vida pessoal, da minha história de amor com o Jaques, meu parceiro de vida, meu namorado antes de me tornar uma mulher cadeirante. Vivenciamos juntos essa história e empreendemos juntos por mais inclusão e acessibilidade, inclusive acessibilidade digital. Casamos e formamos uma linda família com o Gui e o Leo e viajamos para mais de 40 países. Quem poderia imaginar tudo isso de uma menina que aos 22 anos, em 1998, se tornou cadeirante?

Achei que deveria compartilhar mais de tudo que estou vivendo para mostrar que é possível ser feliz em qualquer condição, que temos muitos talentos e não apenas limitações, e que merecemos e precisamos de mais oportunidades, equidade e acessibilidade. E o mais importante: Somos pessoas além das nossas deficiências.

Em que momento você percebeu que tinha se tornado uma criadora? O que isso significou para você?

Quando eu percebi que estava conseguindo gerar discussões relevantes sobre o conteúdo que estava produzindo. No início não me via como criadora de conteúdo, mas apenas alguém que tinha a necessidade de falar sobre temas relevantes para mim e para a sociedade como inclusão, acessibilidade, aceitação, empatia, equidade de oportunidades e mudança de conceitos capacitistas.

Hoje sei da minha responsabilidade que vem com o privilégio de ter uma rede que escuta a minha voz e pode repercutir ideias e ações em favor de um mundo mais acessível e inclusivo. Como costumo dizer em minhas palestras: A gente só muda o mundo quando muda a nossa mente!

O que a amplificação da sua voz e o impacto do conteúdo, por meio da plataforma, significam para a sua vida?

As plataformas digitais deram a oportunidade de termos voz e isso é muito importante para conseguirmos transformar conceitos ultrapassados e conquistarmos espaços que antes eram reservados apenas para alguns. O impacto disso é enorme. As plataformas trazem referência e representatividade e, ao compartilhar e acessar histórias, percebemos que estamos todos a apenas uma história de distância e que temos mais semelhanças do que diferenças. Quando temos referências temos também horizontes, alternativas e caminhos para construir a nossa própria história.

Qual o seu sonho de vida como criadora no TikTok?

Meu sonho como criadora de conteúdo é impactar o maior número de pessoas possível porque sei que o meu conteúdo pode inspirar outras pessoas a serem protagonistas de suas histórias, a se aceitarem do jeito que são, a serem mais empáticas, menos preconceituosas, mais acessíveis e inclusivas! Quero de fato mudar a forma como a sociedade enxerga as pessoas com deficiência.


Na sua opinião, quais são os principais atrativos do TikTok para produzir conteúdo?

Na minha opinião é a plataforma que consegue entender melhor as nossas preferências. Também considero o TikTok uma plataforma generosa que age a favor da distribuição do conteúdo. Tenho muitos conteúdos virais e é isso que de fato impacta e transforma. Acho o editor de vídeos bem completo e fácil de usar. Existem possibilidades infinitas, ao mesmo tempo que é possível fazer algo fácil e simples.

Como o TikTok impactou a sua vida?

Pude ter contato com um público diferente e mais amplo do que poderia imaginar. Para mim quanto mais consigo diversificar minhas conversas, melhor para gerar mais transformação.

Como você tem usado a plataforma para se expressar de forma autêntica?

Estou sempre tentando criar novas formas de expressar minhas ideias, valores e ensinamentos e enxergo muitas possibilidades no TikTok. Eu sou muito inquieta e estou sempre buscando inovar e o TikTok é uma plataforma em que me sinto à vontade de ser quem sou e me expressar de diferentes formas.

Seu conteúdo é muito afirmativo, mas também usa o humor. De onde vem a inspiração?

Da minha verdade e da minha vivência. Sou uma pessoa feliz, positiva e que ama a vida e a mim mesma. Tenho uma linda história de amor com o Jaques e estamos juntos 24hs por dia, 7 dias por semana, já que empreendemos juntos. Gostamos do que fazemos, dividimos o mesmo propósito e já conquistamos muitas coisas. O bom humor sempre fez parte da minha vida assim como o amor por mim mesma. Conheço bem as minhas limitações, mas conheço melhor ainda os meus potenciais.

Como é para você, perceber que é uma voz muito forte da comunidade na plataforma?

Um privilégio enorme que vem acompanhado de uma responsabilidade do mesmo tamanho. Sei que ainda existem poucas vozes potentes de pessoas com deficiência e precisamos batalhar muito para que mais pessoas com deficiência possam ocupar posições de liderança, influência e poder. Só assim conseguiremos construir uma sociedade mais inclusiva, reconstruindo por dentro as estruturas capacitistas que impedem a equidade de oportunidades.

Quais vídeos você mais gosta de gravar?

Gosto quando consigo estruturar e entregar um conteúdo com uma boa mensagem, bem impactante, e que consiga gerar discussões importantes. Adoro quando o Jaques participa dos meus vídeos também, normalmente ele fica nos bastidores, mas gosto muito da nossa interação.

Você considera o TikTok um lugar acolhedor para produzir conteúdo?

Sim. No TikTok é possível ter acesso a infinitas histórias como também encontrar pessoas que compartilham dos mesmos valores e interesses. Isso me faz me sentir à vontade para ser quem sou e dividir meu conteúdo.

Qual o maior desafio para produzir esse tipo de conteúdo? A comunidade TikTok ajuda seu trabalho?

Tempo. Me tornei criadora de conteúdo, mas sou empreendedora social, palestrante, consultora, além de mãe e esposa. Gostaria de ter mais tempo para me dedicar ao meu papel de inspiradora digital, mas estou feliz com o que tenho produzido e com o feedback das pessoas que interagem comigo. A comunidade me ajuda muito. Recebo muito carinho das pessoas e muitas palavras de apoio e isso me motiva muito.

Qual conselho você daria para quem está começando a criar na plataforma?

Seja você em primeiro lugar. Traga a sua verdade, encontre o seu propósito e uma forma original de passar a sua mensagem pensando sempre no valor que o seu conteúdo pode trazer para as pessoas e para o mundo. Seja persistente para conseguir se conectar com a sua comunidade e mantenha sempre a sua essência.

Qual dica você daria para outras pessoas com deficiência se encorajarem a criar conteúdo como o seu?

Criar conteúdo pode mudar a sua vida e abrir caminho para novas oportunidades. Isso aconteceu comigo. Desde que comecei a criar conteúdo muita coisa legal surgiu, pude conhecer muitas pessoas e aprender também. Além de mudar a própria vida podemos inspirar pessoas a mudarem suas vidas também. As plataformas digitais dão a oportunidade de sermos protagonistas das nossas histórias.