Patrick Torres (@patzzic) é autor de livros, apaixonado por literatura e começou a gravar vídeos no TikTok como uma forma de compartilhar conhecimentos e opiniões das obras que estava lendo. Com um conteúdo autêntico, divertido e informativo, se tornou um dos principais nomes da comunidade #BookTokBrasil. Seu perfil conta com mais de 378 mil seguidores e mais de 8 milhões de curtidas, e seus livros fazem sucesso na plataforma.
Além de destaque no projeto TikTok Change Makers, Patrick também foi selecionado para a lista de Vozes Visionárias especial do Mês do Orgulho, que indicou criadores que fazem a diferença para a comunidade LGBTQIAP+ na América Latina. Por isso, Patrick também é o escolhido deste mês para contar sua trajetória no #LugarDeFalas.
Conte-nos um pouco sobre sua história de vida e trajetória na internet. Quando e por que você começou a gravar conteúdo para o TikTok?
Comecei a produzir conteúdos para o TikTok em 2021, durante o período de distanciamento social desencadeado pelas medidas de proteção contra a pandemia de Covid-19. Na época, lia muitos livros, especialmente porque a minha faculdade havia decretado suspensão temporária das atividades - o que me fez ter mais tempo livre - e precisava dar vazão ao meu desejo de comunicar meus sentimentos em relação ao que lia e que estavam me acompanhando durante um momento que considero um pouco solitário. O TikTok surgiu então como a ferramenta perfeita para a criação de vínculos e compartilhamento de percepções sobre meu eu e meu contato com a arte da escrita! Comecei postando vídeos simples, e rapidinho encontrei quem gostava de mim e do meu conteúdo.
Em que momento você percebeu que tinha se tornado um criador? O que isso significou para você?
Eu demorei para ter essa percepção, na verdade. Acho que associava a figura do creator à imagem da pessoa que ganha dinheiro com a criação. Sei que essa é uma visão equivocada e, que para ser considerado um criador, você não necessariamente tem que ganhar dinheiro com o que faz - apesar de ser sempre bom, né? -, mas, acho que eu comecei a dizer que eu era/sou “criador de conteúdo” quando fiz os primeiros trabalhos e fui pago por isso, e quando recebi os primeiros livros em casa! E para mim foi uma baita surpresa! É muito interessante quando nos percebemos fazendo algo novo. Simbolizou um momento de dar vazão ao meu eu expressivo, falando sobre algo que eu amo!
Qual livro é mais especial para você? Por quê?
Falando em criação de conteúdo, não posso deixar "Dom Casmurro", do Machado de Assis, de fora. Foi o livro que me fez viralizar, eu diria, e nutro um amor especial pela história e pelo autor, o Machado! Toda a história, o desfecho, a dúvida que Capitu deixa aos leitores, mas ao mesmo tempo a sensação de completude que uma obra tão interessante nos permite sentir… São coisas inexplicáveis e atemporais! Dom Casmurro sempre dá o que falar, em qualquer época, dos jornais às redes sociais.
E qual autor(a) você é mais fã? Por quê?
Como já mencionei Machado, agora vou citar um contemporâneo que me inspira de forma muito importante: Itamar Vieira Junior. Sinto que sua obra conversa comigo de um jeito muito especial, principalmente porque compartilho com ele a origem nordestina e muito da minha cultura natal está presente de forma contundente na sua literatura. É sempre empolgante acompanhar os trabalhos dele ganhando forma! Gosto muito dele!
Como você tem usado a plataforma para se expressar de forma autêntica?
Tenho sempre tentado pensar em produzir vídeos que eu gostaria de assistir, que se parecem com o que eu queria genuinamente fazer. Tento entender esse espaço de criação como um lugar para ser quem você é, e por isso é muito importante para mim estar alinhado com os meus próprios interesses. Não crio porque há tendências, porque fazem, porque está em alta, porque “podem gostar”. Eu crio porque eu quero, e o conteúdo que eu quero criar. Às vezes não tenho um bom alcance, mas sempre, sempre, sempre fico feliz com o que produzi, porque era exatamente aquela a proposta. Não me desvirtuo de mim, enquanto criador, e isso para mim é trazer a autenticidade para o conteúdo que se faz.
Qual o vídeo que você gravou que você mais gosta e sente orgulho?
Há tantos vídeos meus que gosto muito, principalmente pelo que disse acima. Tento gostar de todos os meus vídeos de forma genuína. No momento, consigo pensar que o vídeo que fiz sobre Conceição Evaristo me deixou e me deixa muito contente. É motivo de muito orgulho para mim, transformar em pauta de vídeo o trabalho e a trajetória de uma das maiores autoras que o Brasil já teve e tem, e poder falar deste ícone literário para tantas pessoas - o vídeo performou muito bem - me deixou cheio de alegria! O vídeo está, inclusive, em fixado no meu perfil!
Quais suas maiores inspirações dentro do TikTok?
Fico muito honrado em poder responder a esta pergunta citando meus amigos. Felizmente, no TikTok, criamos uma comunidade que também é repleta de amizades - e fofocas - e algumas inspirações para mim hoje em dia são o Tiago Valente (@otiagovalente), Rodrigo de Lorenzi (@rodrigodelorenzi), Lucas Barros (@lucasbarrosd), Ana Jú (@anajulivros), Dora (@doraweigand) e a Debook (@debook_). Tem também a Karou Dias (@karouescreve), a Camilla (@pretaletrada) e a Maria (@impressoesdemaria). São alguns dos nomes!
Você é um dos criadores escolhidos para fazer parte do "Programa TikTok Change Makers", sendo valorizado por seu impacto na plataforma, principalmente na questão da educação. Como você se sente sendo um dos destaques da plataforma? Imaginava algo do tipo quando começou sua jornada?
Eu nem acredito nisso (risos)! Para ser sincero, eu não sei se processo de forma completa o que isso significa. Tenho demorado para acreditar em coisas grandes acontecendo com o conteúdo que crio, mas é justamente no choque que reside o impacto e a percepção de que talvez eu esteja fazendo a coisa toda do jeito certo. Espero contribuir de forma interessante para a iniciativa!
Você também faz parte da ação "Vozes Visionárias", que reconhece criadores e personalidades da plataforma neste Mês do Orgulho. Como você enxerga a importância de fazer parte destas ações sendo uma voz importante para a comunidade LGBTQIAP+ do TikTok?
É sempre muito bom ter para quem olhar. Cresci buscando minhas inspirações em pessoas que eram como eu, e encontrá-las ao longo da vida, pessoalmente ou não, cada uma em um momento específico, foi muito importante para minha auto descoberta e para que eu um dia me encontrasse enquanto um sujeito que eu gostaria de ser. Estar hoje sendo entendido como alguém com a potência de ser inspirador na comunidade me deixa feliz e orgulhoso de mim, das escolhas que fiz, e me faz sentir como se eu abraçasse aqueles e aquelas que um dia foram meus ícones de liberdade ao longo de uma existência que buscava a felicidade caminhando lado a lado com a Comunidade LGBTQIAPN+.
Recentemente, o livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, viralizou mundialmente na comunidade do #BookTok. Como você se sente com uma obra clássica brasileira sendo reconhecida mundo afora?
A sensação é que eu posso dizer coisas como “eu avisei”! “Memórias Póstumas” sempre foi esse livro incrível e cheio de potencial, não à toa é um dos nossos maiores clássicos, ele já era bastante reconhecido pelo mundo literário como um cânone. Quando as pessoas começaram a falar dele (de novo) nas redes, fiquei saltitante de alegria e de orgulho de nossa literatura, que merece mesmo chegar cada vez a mais gente! Conquistar o público da internet é um movimento muito importante para que se chegue à atemporalidade com mais solidez - o que a obra machadiana já faz com esmero.
Você costuma descrever alguns livros como se estivesse contando uma fofoca para seu público, e aproveitando o tema “Machado de Assis”, qual sua opinião sobre uma das principais fofocas da literatura brasileira: Capitu traiu ou não Bentinho?
Já fui mais contido com a minha opinião nessa brincadeira toda (risos), mas hoje não tenho muito problema em dizer que acho que Capitu traiu! Não consigo assumir Bentinho como um lunático completo - alguém desajustado com certeza. Gosto do Bentinho, apesar de suas presepadas, e confio nele enquanto narrador… o suficiente para de certa forma botar fé quando ele diz que Ezequiel talvez seja filho de Escobar! O menino é a cara do outro, uai (risos)! Mas, às almas apegadas à real possibilidade de Bentinho ser totalmente desequilibrado, o pensamento de que Capitu não traiu também é uma perspectiva interessante.
Qual seu sonho de vida como criador? E como autor?
Que pergunta difícil de responder (risos). Acho que, enquanto criador, quero ser levado a sério, entendido enquanto alguém comprometido com o falar da literatura que eu amo, com credibilidade e propósito. Quero que pensem em mim e me associem a alguém que não faz coisas por fazer, mas sim que está presente em completude no que se propõe a criar. Um dia chego nesse patamar!
E enquanto autor, acho que quero ser lembrado. Todo mundo que escreve põe um documento à prova da história, do tempo, não é? Se for para viver um sonho na escrita, que seja a atemporalidade. Estou longe de ser um atemporal, e talvez eu nem saiba quais caminhos trilhar para chegar neste lugar. Mas… é, este é o meu sonho.