Community10 de dez. de 2021
Perfil #AgoraÉMinhaVez: @raissarochamachado
A comunidade diversa é motivo de orgulho para o TikTok. No espaço #AgoraÉMinhaVez deste mês, vamos contar um pouco mais sobre a criadora de conteúdo, Raíssa Rocha Machado, @raissarochamachado, atleta paralímpica, negra e deficiente física, que tem nos alegrado com seus vídeos de treinos, maquiagem e vida cotidiana. Uma de suas maiores aspirações é ser a melhor lançadora de dardos do mundo e quebrar o recorde mundial, que atualmente é de 24m50. Nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, Raíssa conseguiu 24m39.
Conte-nos um pouco sobre sua história de vida, no esporte e trajetória na internet.
Quando eu comecei no esporte, na verdade comecei na ginástica. Na época, estudava em uma escola pública em Uberaba (SP), sempre fui muito reservada e um dia uma professora de educação física veio até mim e me perguntou o que eu gostava de fazer. Eu disse que gostava de dançar e ela me perguntou “Se a gente te inscrever em um cursinho, você vai?”. E eu fui e comecei na ginástica. Lá, com toda atenção e inclusão, meu treinador disse que eu tinha nascido para ser atleta. Falei: “não nasci pra nada, só quero terminar meus estudos e fazer direito”. Eu tinha o sonho de ser delegada. Ele disse que não, que meu destino era outro, que eu deveria ser atleta. A partir desse momento, todos que tiveram acesso a mim diziam o mesmo, ou seja, eles enxergavam uma Raissa que nem eu mesma via. Bom, fui encaminhada para uma instituição/clube e fiz os testes, que deveriam dizer quais modalidades a minha deficiência se encaixava e, para a minha surpresa, eram todas. Desde o começo, me identifiquei com o dardo. Minha trajetória foi de muitos desafios e lutas, pois eu tinha um problema muito grande de aceitação comigo mesma. No meu mundo, até então, apenas eu era deficiente, todo o resto era normal.
No clube, eu vi outros deficientes e isso foi um baque muito grande pra mim, pois o meu próprio preconceito acabou se tornando mais forte. Eles estavam bem, felizes, alegres e eu não. Eu não estava bem, estava muito triste. Muitos deles se tornaram deficientes durante a vida, mas eu não, nasci assim, tenho pé torto, corpo diferente… Precisei aprender que cada um tem a sua deficiência e sua limitação, mas não foi fácil. Eu não me encaixava, tentei tirar a minha vida algumas vezes, mas Deus não deixou. E, por mais que eu não quisesse, que eu acreditasse que aquilo não era pra mim, eu encontrei no esporte a minha salvação e tudo que eu precisava para me entender e me aceitar. Ele salvou minha vida. Posso dizer que apenas em 2015 eu passei a entender o mundo dos deficientes, no entanto, para me aceitar e me entender mesmo, aconteceu só depois que me mudei para São Paulo, em 2018. O processo foi bem longo e demorou muito. Hoje tenho 25 anos e estou bem, estou feliz.
Aceitei minha deficiência, meu cabelo e as redes sociais me ajudaram muito também. Depois que comecei a mexer, passei a entender melhor a cabeça das pessoas, como elas funcionam. Eu sou muito sonhadora, acho que é normal e tudo começou quando tive a ideia de começar a mostrar como era a minha vida. Eu tinha esse sonho de mostrar para as pessoas sobre a minha modalidade, muitos não sabem o que é arremesso de dardo, de disco, e quando tive a oportunidade de dar minha primeira entrevista, foi um boom e as pessoas passaram a querer saber mais sobre a Raissa e sobre o esporte. Essa entrevista mudou a minha vida, fez eu sonhar ainda mais alto. Muitos que viram a entrevista disseram que eu também tinha nascido para ser modelo.
Enfim, passei a utilizar mais as redes, afinal, o atleta é um produto e precisava também que os patrocinadores e marcas me vissem, entendessem a modalidade, vissem meus treinos. Ainda é muito difícil para um atleta paralímpico obter patrocínio. E, depois dessa entrevista, passei a experimentar outras coisas, comecei a mostrar mais a Raíssa dona de casa, que tira foto, gosta de mostrar a sua beleza, que inspira a ser melhor diariamente. Quero que as pessoas me vejam também como blogueira. Para mim, as redes sociais são uma troca de energia e uma maneira de entender as diferenças e a beleza de cada um. Quando eu me abri, passei a entender que nem tudo era preconceito e que as pessoas tinham curiosidade. Hoje consigo falar mais, me mostrar mais e, através das redes sociais e do esporte, consigo ajudar minha família. Independente se é um patrocínio ou um job, eu tenho esses rendimentos.
Quando e por que você começou a gravar conteúdos para o TikTok?
Então, é uma história até engraçada porque eu já fazia conteúdo para outras redes, mas uma amiga minha conheceu o TikTok e disse que a plataforma era a minha cara. Eu disse “mas mulher, eu não sei dançar”, ela respondeu “sabe sim, vai lá, vai dar bom”. A partir daí, mais especificamente durante a pandemia, é que comecei a fazer challenges no TikTok, de maquiagem e dancinhas - veja só - e simplesmente joguei lá. Já comecei a perceber que era algo que valia a pena, mas ainda não tinha grandes expectativas. Até o dia em que um dos vídeos que postei, logo que voltei aos treinos, bateu mais de 1 milhão de visualizações e eu pensei “uau, o TikTok realmente chama bastante atenção”.
O legal da plataforma é que ela quebra a história dos moldes da perfeição. As pessoas querem ver você, independente de qualquer coisa. Eu vejo o TikTok como um app divertido e autêntico, que encoraja as pessoas a se mostrarem.
Em que momento você percebeu que tinha se tornado um influenciadora digital? O que isso significou para você?
Até hoje eu não acredito que tenha me tornado uma influenciadora digital. Entendo que só de estar influenciando pessoas, isso já te torna uma influenciadora, mas ainda não me vejo assim. Acredito que comecei a perceber quando algumas meninas começaram a falar e a se identificar com a minha história, quando elas falaram que entenderam que são capazes de correr atrás dos seus sonhos a partir de publicações e vídeos meus. E eu fico muito feliz e lisonjeada, porque as pessoas estão realmente enxergando a Raissa. Elas estão me acessando. É muito gratificante.
Acho que todo mundo que chega nesse ponto de influenciar as pessoas acham um pouco estranho, tipo “quem sou eu para influenciar alguém?”. Mas as pessoas se identificaram com a minha história. Eu sou fanática na Juliette, por exemplo, e me identifiquei com ela mesmo de longe. Ela conseguiu me mostrar a sua essência. Acredito que é isso que as pessoas veem em mim, a minha essência. Fico muito grata e muito feliz por ajudar as pessoas, de forma leve, a passar pelos seus processos.
Atualmente faço parte de um projeto chamado Inspire, que ajuda a inspirar outras mulheres. E estar com outras atletas maravilhosas realizando um trabalho tão bonito é algo muito além das palavras, é um sentimento que não dá pra descrever.
Como você tem usado a plataforma e de que forma interage com ela e seus seguidores?
Eu ainda estou um pouco perdida na hora de interagir com meus seguidores, mas tento responder todos os comentários que recebo. Estou em uma fase da minha vida pessoal que ando preferindo deixar os aplicativos um pouco de lado, sabe. Mas em breve torno a me dedicar e volto a postar. Estou planejando postar vídeos de treinos, mais dancinhas e conteúdos bacanas para que o público possa interagir comigo.
O que a viralização e a consequente fama, através do esporte e da plataforma, significam para a sua vida?
Significa gratidão por tudo que Deus me deu. Nunca imaginei, nunca na vida e é a grande realização de um sonho. Através das redes sociais, eu consigo mostrar quem eu sou, a Raissa, que além de atleta, é negra, cadeirante, mulher. Gratidão é o melhor sentimento que posso demonstrar.
Qual o seu sonho de vida como atleta e influencer digital?
Como atleta é ser a melhor do mundo, claro, está entre os meus três maiores objetivos de vida. Quero, não só ser a melhor do mundo, mas também bater o recorde mundial no lançamento de dardo. Se Deus quiser, em Paris, em 2024, eu levo a medalha de ouro. Nas Paralimpíadas de Tóquio, me contentei com a prata, faltou confiança e acredito que Deus tenha me dado essa medalha como uma mensagem para que eu possa confiar mais no meu trabalho e no do meu treinador. Eu acredito muito em energia e se pensarmos positivo, a gente consegue tudo.
Na minha vida pessoal, o meu maior sonho é comprar uma casa para minha mãe, lá em Uberaba (SP). Esse é meu maior objetivo e, ainda não consegui, mas planejo para que seja muito em breve.
Como o TikTok impactou a sua vida?
Nossa, o TikTok impactou demais a minha vida. A plataforma me fez passar - e perder - aquela vergonha de dançar e se mostrar. Sempre fui tímida, só me solto quando me sinto à vontade mesmo, sabe?
Eu tenho um objetivo de ser muito grande no TikTok, conquistar milhares e milhares de seguidores, pois é uma plataforma que realmente entrega os seus vídeos.
Conte-nos alguma curiosidade sobre você:
É difícil pensar em alguma curiosidade minha porque eu falo para caramba, sou um livro aberto. Não tenho segredos na minha vida. Mas acho que podemos dizer que eu sou uma negação na cozinha e preciso de uns tutoriais de culinária no TikTok para aprender a cozinhar rs. Só sei cozinhar os alimentos que meu nutricionista manda, de resto não sei nada! Batata doce? Joga na panela.
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