Janeiro lilás é o mês da Visibilidade Trans e no espaço #AgoraÉMinhaVez deste mês, vamos contar um pouco mais sobre a história de Dante Olivier, @dante.olivier, ator, 25 anos, de Recife, homem trans e dono de um perfil com mais de 1,3 milhão de seguidores e 24 milhões de curtidas. Com um perfil plural, Dante alegra seus seguidores com seus vídeos de resenhas de filmes, fashion, cozinha, dança e debates educativos sobre a vivência trans, sempre com uma pegada de humor, carinho e acolhimento. Um dos seus maiores sonhos como produtor de conteúdo digital é conseguir viver da sua arte. 


Conte-nos um pouco sobre sua história de vida e trajetória na internet.

Minha história começa ao falar que sou um homem trans e fico muito feliz por participar desse projeto do TikTok em janeiro, pois é o mês em que comemoramos a Visibilidade Trans. Assim que comecei a minha transição, aos 19 anos, lá em 2015 ou 2016, eu topava tudo: participava de eventos, dava palestras, botava a minha cara no sol para que as pessoas viessem a mim e conversassem, tirassem dúvidas, porque é assim que as pessoas entendem, enxergam, compreendem… Naquela época a ignorância era ainda maior e quando me entendi, enquanto Dante, me propus a ajudar as pessoas, a esclarecer e a dar força.

Comecei a investir no TikTok durante a pandemia e foi uma válvula de escape para um momento de ociosidade. Antes, eu sempre fui muito perfeccionista, minhas postagens precisavam ter um conceito, um “negócio”... mas comecei a produzir conteúdo para o TikTok, eu me senti muito livre para ser eu mesmo, só “dar a doida”, entende? E então comecei a explorar a produção de vídeo na plataforma. No começo foi tudo muito diluído e muito suave, um lugar onde comecei a explorar a criatividade e simplesmente começou a dar certo. Um vídeo viralizou aqui, outro ali, e resolvi investir nisso. Um amigo vinha viralizando bem na plataforma e me deu força para continuar e colocar a minha energia nisso. Atualmente, vivo de Internet e até faço coisas nas outras redes, mas tudo começou pra mim no TikTok.


Em que momento você percebeu que tinha se tornado um influenciador digital? O que isso significou para você? 

Prefiro falar que faço produção de conteúdo para internet, fico meio tímido de falar que sou  influenciador (risos). Não sei, acredito que foi quando participei de uma trend “Grow with Me”. Por sorte, meus pais filmaram grande parte da minha infância e adolescência, então eu tenho tudo documentado… E então, no final do vídeo, as pessoas perceberam que sou trans. Foi um vídeo que rodou bastante e gerou um debate muito bacana sobre o tema. Muitas pessoas que ainda não se abriram, ainda não se assumiram, vieram falar comigo sobre isso, disseram que o vídeo dava força a ela. Muitas mães também me disseram que os vídeos ajudam a entender a situação de seus filho. Foi muito gratificante. Me senti muito feliz, com um quentinho no coração. Antes eu ajudava em microcosmos, hoje expandi nacionalmente e até mundialmente, para países falantes de língua portuguesa.


O que a viralização e a consequente fama, através da plataforma, significam para a sua vida?

Acho um pouco de pretensão me chamar de famoso (risos). Algumas pessoas me conhecem, mas famoso é a Juliette, a Anitta, a Ludmilla, a Gloria Groove. No entanto, podemos dizer que a viralização significa a legitimação de um trabalho que eu faço com muito carinho, amor e muito gosto. Estou extremamente realizado e é muito bom sentir que há um reconhecimento do público, da família, das marcas que estão me entregando os produtos para que eu faça um trabalho para eles. E estar conseguindo viver disso é extremamente relevante. Sempre me senti muito perdido profissionalmente e agora me encontrei.  


Qual o seu sonho de vida como influencer digital?

Quero sentir que consigo viver disso de uma forma estável, ainda me sinto muito inseguro, sabe? Quero sentir que posso viver, fazer as minhas coisas, ajudar minha casa, minha família e reinvestir, aumentar e ter cada vez mais possibilidades dentro do criar. São tantos pequenos sonhos, não tenho um grande sonho, estabeleço metas pra mim. Um passo de cada vez, um pezinho na frente do outro. Independência é meu maior sonho. 


Como você tem usado a plataforma para se expressar de forma autêntica?

Tudo que eu faço no TikTok é no sentido de deixar a minha autenticidade aflorar, até o que é mais roteirizado tem espontaneidade da minha parte. Além disso, sempre que eu trago questões LGBTs, como bissexualidade e transexualidade, que são as duas letrinhas que eu me encaixo, busco fazer de forma com que a pessoa que está do outro lado da telinha também se sinta confortável. Na época que fazia as lives, por exemplo, sempre foram com objetivo de acolhimento. Eu conversava com as pessoas, tirava dúvidas sobre a transexualidade. E quando você acolhe, as pessoas se sentem mais livres para serem autênticas, para serem quem elas são. Eu também me sinto acolhido no TikTok e é um sentimento incrível. Eu só tive coragem de me expor dessa forma e brincar tanto com a criatividade justamente por me sentir acolhido. Sentir que posso.